Hábitos de vida
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) e a Organização para a Agricultura e Alimentação (FAO), os padrões alimentares, juntamente com os hábitos de vida, constituem fatores modificáveis de extrema importância para a diminuição do risco de doenças cardíacas, câncer, diabetes tipo 2, obesidade, osteoporose e doença periodontal.
Uma alternativa de grande impacto no combate às doenças e que vem conquistando espaço são os alimentos funcionais. Com nutrientes capazes de fornecer algo além da nutrição básica, os alimentos funcionais têm desempenho terapêutico específico à saúde.
Pode-se atribuir o crescimento da demanda desses alimentos ao aumento dos gastos com cuidados com a saúde, ao aumento da expectativa de vida e ao desejo de pessoas idosas de melhorar a qualidade de vida.
Nesse novo cenário, em que boa parte das mortes é causada por maus hábitos, a obesidade e a desnutrição são um fator de risco para qualquer doença, como pode ser observado com a COVID-19. Desta forma, tornou-se fundamental o investimento na qualidade da alimentação funcional, pois ela pode proporcionar uma melhor qualidade de vida e, consequentemente, um melhor envelhecimento da população, minimizando os problemas de saúde.
Sendo assim, novas tendências alimentares justificam o desenvolvimento de alimentos funcionais, devido aos hábitos adquiridos pelas pessoas, que tendem a alimentar-se de maneira pouco balanceada e pobre em nutrientes essenciais ao organismo.
Transição nutricional
O crescente interesse da indústria pelos alimentos funcionais está relacionado diretamente às atuais necessidades de combater os problemas de saúde vividos pela população mundial. O declínio das taxas de nascimento e o aumento da expectativa de vida em várias partes do mundo têm levado ao envelhecimento da população. Mas será que esse aumento da expectativa de vida vem sendo acompanhado por um aumento similar na expectativa de saúde no decorrer da vida?
Parece que não. O mundo tem convivido com diferentes doenças causadas principalmente por excesso de trabalho, falta de tempo para atividades físicas, hábitos ruins como: cigarro, bebida em excesso, fast-food têm levado a serias consequências na saúde pública.
A transição nutricional caracteriza-se pela redução nas prevalências dos déficit nutricionais e pelo aumento expressivo de sobrepeso e obesidade.
As modificações alimentares estão atreladas ao aumento do poder de compra da população, que se observou nos anos anteriores. A preferência frequente por consumir fora de casa, em restaurantes e fast-foods. Como consequência, observou-se um aumento no consumo de ácidos graxos saturados, açúcares, refrigerantes, álcool, produtos industrializados com excesso de gorduras “trans”, carnes, leite e derivados, ricos em gorduras, além de guloseimas como doces, chocolates, balas, sorvetes etc.
Em contrapartida, foi constatada uma redução considerável no consumo de carboidratos complexos, frutas, verduras e legumes. Esse fato gera um quadro de excesso calórico, pela elevada ingestão de macronutrientes (carboidratos, proteínas e lipídeos), e de deficiência de micronutrientes (vitaminas e minerais). Esse quadro corroborou para o aumento de doenças como: obesidade, diabetes, doenças intestinais, doenças bucais, doenças cardiovasculares, doenças do sistema nervoso,
Por outro lado, com o aumento à informação, consumidores cada vez mais informados passaram a ser mais exigentes com os alimentos que consumem. Se por um lado temos uma população com déficit nutricional, por outro, há o crescimento de tendências como: veganismo, vegetarianismo, dietas nutricionais, consciência alimentar, social, ambiental etc.
Tendências de consumo: Orgânicos/funcionais
Seguindo as tendências globais de consumo, pode-se traçar as tendências para o setor de alimentação. De acordo com um estudos e informações publicadas no Retail Merchandiser, Just-Food e Food Management, o lançamento de novos produtos se intensifica a cada ano em quase todas as regiões do mundo. Conforme o periódico citado, os consumidores estão mudando suas prioridades de simples controle de peso para uma visão mais ampla de cuidados com a saúde.
Com isso os produtos ligth de outrora cederam lugar aos produtos orgânicos e funcionais. Os produtos orgânicos estão relacionados dentro do conceito BOM PARA VOCÊ, o segmento que promete um crescimento mais acelerado no futuro é o de produtos orgânicos, aqueles com benefícios funcionais específicos, aqueles que oferecem nutrição conveniente e os que são saudáveis, inclusive para as crianças. Alimentos funcionais aparecem como uma subtendência de saudabilidade.
Não podemos deixar de citar a sustentabilidade e ética, pois esses consumidores também estão preocupados com o meio ambiente e interessados em contribuir para causas sociais ou auxiliar pequenas comunidades agrícolas/agricultura familiar por meio da compra de produtos alimentícios.
Alimentos Funcionais: definição
A exata definição do que vem a ser um alimento funcional pode variar bastante, a depender de diferentes discursos científicos e da legislação vigente em cada país. A Sociedade Brasileira de Alimentos Funcionais (SBAF), por exemplo, considera o seguinte conceito: “Alimentos funcionais são alimentos ou ingredientes que, além das funções nutricionais básicas, quando consumidos como parte da dieta usual, produzem efeitos metabólicos e/ou fisiológicos e/ou benéficos à saúde, devendo ser seguros para o consumo sem supervisão médica, sendo que sua eficácia e segurança devem ser asseguradas por estudos científicos”.
Já a definição dada pela Funcional Food Science in Europe (Fufose)/ Internacional Life Sciences Institute (ILSI) é de que alimentos funcionais são aqueles que possuem efeitos satisfatoriamente demonstrados que afetem uma ou mais funções do organismo, além de suas características nutricionais básicas, de um modo que mantenha ou melhore a saúde e o bem-estar e/ou reduza o risco de alguma doença. Esses produtos não podem ser cápsulas ou pílulas e devem fazer parte da dieta usual.
Como exemplo de alimentos funcionais podemos citar: frutas, hortaliças, grãos, alimentos fortificados e alguns suplementos alimentares que têm sido desenvolvidos para trazer benefícios à regulação de funções corporais, exercendo proteção contra algumas doenças, e apresentam as seguintes características:
· São alimentos convencionais consumidos na dieta normal/usual;
· São compostos de substanciais naturais/orgânicas, algumas vezes em elevada concentração ou presentes em alimentos que normalmente não as supririam;
· Possuem efeitos positivos além do valor nutritivo, o que pode aumentar o bem-estar e a saúde e/ou reduzir o risco de ocorrência de doenças;
· Provem benefícios à saúde e aumentam a qualidade de vida, melhorando os desempenhos físico, psicológico e comportamental;
· Possuem propriedade funcional com embasamento científico;
· São alimentos nos quais a bioatividade de uma ou mais substâncias foi modificada.
São os principais compostos bioativos e/ou funcionais presentes nos alimentos ou adicionados a eles como ingredientes, responsáveis por diferentes efeitos benéficos ao organismo: ácidos graxos, como ômega-3 e 6; antioxidantes, como o ácido ascórbico (vitamina C), a vitamina E; compostos fenólicos, os carotenoides e o zinco; fitoesteróis, provenientes de óleos vegetais; fibras alimentares, como as encontradas em vegetais como grãos integrais, raízes, frutas e hortaliças; probióticos.
O mercado de alimentos funcionais
O mercado de alimentos funcionais apresenta algumas características peculiares: é relativamente jovem, com alto potencial de crescimento e diversificação, composto de consumidores mais exigentes e informados; está em constante manutenção da imagem de segurança e alta qualidade dos produtos; demanda uma comunicação eficiente e honesta com o consumidor; necessita apoio científico que prove os benefícios alegados e justifique seu preço diferenciado.
De acordo, com a Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação (Abia, 2007), calcula-se que o setor de alimentos funcionais movimentava em torno de US$32 bilhões em 1999, chegando a US$60 bilhões em 2005, sugerindo uma média de crescimento anual de 14%, enquanto que o mercado de alimentos convencionais cresceu na faixa de 3% a 4%.
Um estudo intitulado Health and wellness food and beverages in Brazil (Alimentos e bebidas para a saúde e o bem-estar no Brasil) mostrou que houve no país um crescimento de 82,4% do mercado de alimentos para saúde e bem-estar entre 2004 e 2009. Nesse período, o volume movimentado passou de R$15 bilhões para R$27,2 bilhões. Em 2014, o Brasil teve a quinta maior taxa de crescimento mundial no segmento de alimentos funcionais (10% a 12% ao ano). Cerca de 734 alimentos funcionais (alegação de propriedade funcional ou de saúde) estão registrados no Brasil (Abras, 2014).
Considerações Finais
A Alimentação saudável/orgânica é reconhecida como a primeira linha de defesa na prevenção de diversas doenças, como câncer, osteoporose, artrite, entre outras. O conhecimento sobre o comportamento do consumidor de alimentos funcionais/orgânicos é, contudo, incipiente e varia entre diferentes países em função de particularidades regionais.
A atual situação nutricional da população mundial é consequência de mudanças no estilo de vida e nos hábitos alimentares ocasionadas pelas transições demográfica e social, o que acarretou uma mudança no perfil das doenças que acometem a população, a exemplo da Covid-19.
Essa situação vem acompanhada do aumento da expectativa de vida, mas não do aumento da expectativa de saúde. Com isso os alimentos funcionais surgem como uma alternativa para uma vida saudável. É por isso que o mercado dos alimentos orgânicos/funcionais cresce cada vez mais, no Brasil e no mundo.
É preciso muito esclarecimento aos consumidores a respeito dos alimentos funcionais, por isso, esperamos ter contribuído para aumentar o seu nível de conhecimento sobre como esses alimentos podem auxiliar na manutenção da saúde e na prevenção de doenças.
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Fonte: “Alimentos Funcionais”, Dra. Jocelem Salgado.